domingo, 16 de março de 2014

INSATISFAÇÃO CONJUGAL


Todo casamento começa com um projeto de ideal e após algum tempo de relação ocorre uma espécie de decepção por a fantasia não ser condizente com a realidade. Se quebra a imagem fictícia de perfeição e vive-se o luto disso, concomitante ao sentimento de afeto que se mantém por essa pessoa ‘imperfeita’. Há uma dualidade: o amor pelo outro e o sentimento de frustração por ele não corresponder às expectativas da imagem idealizada. Há níveis de frustração e cada pessoa tem uma forma subjetiva de lidar com ela. Alguns perpassam por essa fase sem muito alvoroço, todavia há quem enfrente grandes dissabores e ainda, quem chegue ao divórcio.
Quando uma pessoa tem dificuldades de conviver com as peculiaridades do parceiro, não consegue o aceitar como ele é em essência, há uma forte tendência a tentar mudá-lo, transformá-lo em uma pessoa que ele não é. Algumas destas manipulações são sutís. Podem surtir efeitos positivos quando o desejo pela mudança parte dos dois, mas também podem formatar falsas mudanças, aparências que com o tempo se desmancharão. Quando as estratégias para mudar o outro são muito agressivas, imponentes ou exigem padrões muito opostos a o que ele realmente é ou acredita, o relacionamento entra em conflito.
É comum ocorrerem embates quando um dos cônjuges é insaciável, espera mais e mais do outro e mesmo que este lhe faça inúmeros agrados, nunca será o suficiente. Aqui existe um sentimento de menos valia, pensa que o outro não o valoriza, pensa que o outro poderia fazer mais, cobra muito porque acredita que é dever do outro se esforçar para lhe agradar. Só consegue mensurar o amor do outro pelo tanto que ele cede e lhe serve. Na verdade, tem falta de amor próprio e confere ao outro a obrigação de suprir isso.
No outro lado se encontra um que faz de tudo para agradar, e como nunca consegue se sente incapaz, impotente. Se vê desvalorizado, pois o outro nunca reconhece seu esforço. Por mais que faça o máximo que pode, o esposo (a) sempre considera o mínimo. Fica acuado, desmotivado, infeliz por não ser capaz de fazer feliz o outro. Ai a autoestima decai e olhar para uma terceira pessoa acaba por se tornando uma alternativa. Aqui é uma grande brecha para os relacionamentos extraconjugais.
O insaciável também é tendente a procurar outros amores, mas se isto acontecer a história se repetirá. Pois nenhuma pessoa será capaz de suprir seu vazio existencial. Por mais que acredite que um grande amor resolverá, isso nunca vai acontecer. Essa procura, esta falta não está no outro, não está em nenhuma pessoa ou coisa exterior a sí.
Quando as pessoas estão insatisfeitas consigo mesmas fazem, inconscientemente, uma projeção no outro. Passam a acreditar que o marido/mulher é culpado pelos seus desgostos. Os atos alheios são percebidos como exacerbadamente errados, incorretos, irritantes e não consegue enxergar nada além do que a própria verdade. Se algo em seu companheiro te irrita profundamente é porque esta revelando algo sobre você. Caso não consiga enxergar é hora de procurar ajuda externa. 

Psicóloga katree Zuanazzi
CRP 08/170170

Publicado no Jornal de Notícias A Folha de Saltinho dia 15-03-2014
Pode ser reproduzido citando a fonte e a autora. (Lei 9.610/1998)

Um comentário:

  1. Dr. Katree numa situação exatamente como essa, o melhor a fazer é?
    Coração diz vai dar certo e o cérebro diz cai fora logo

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