terça-feira, 27 de novembro de 2012

LIBERDADE NÃO É LIBERTINAGEM


A ânsia por se sentir dono de sí é um desejo pertencente a todas as pessoas. Ser autosuficiente e se colocar no domínio da própria vida promove certa sensação de segurança, mantém a autoestima mais elevada e é sim saudável. Este desejo de estar no controle, de nivelar e dominar os próprios caminhos incita as pessoas a adotarem posturas que a reafirmem como sujeitos livres. Mas o que seria realmente esta tal de liberdade?
É estarrecedor a forma como as pessoas confundem a palavra liberdade com libertinagem, sendo que a diferença entre ambas é discrepante. Enquanto a liberdade diz respeito ao direito do sujeito de se posicionar conforme ele desejar, desde que não se oponha ao direito do outro a libertinagem é totalmente o oposto, faz referência a devassidão, a falta de limites, tanto com o outro, quanto consigo mesmo. “Ser-se livre não é fazermos aquilo que queremos, mas querer-se aquilo que se pode”, esta afirmação de Jean-Paul Sartre esclarece nossa circunstância de ser livre.
A liberdade é inerente ao ser humano, é uma condição, cada um é livre e pronto! Mas o que fazer com esta liberdade compreende um campo bem mais complexo. A palavra liberdade traz ao pensamento a ideia de infinito, mas engana, porque ela é limitada. A liberdade de cada um vai de encontro com a liberdade que o outro também tem e aí depara-se com o limite.
O ser que se apropria da sua liberdade é aquele que escolhe para si, sabe o que quer e faz um planejamento para conseguir o que deseja, não dissimula seus valores e nem se utiliza das pessoas ao seu redor como bode expiatório. Só que às vezes, a pessoa aspira tanto não ser alienada que, quando tenta assumir sua condição de livre adota expressões não muito pertinentes e sensatas, transformando, desta forma, sua vida livre em libertina. O que não percebem é que a libertinagem contém em si própria a alienação.
Sim, porque o libertino não faz o que ele quer, ele faz coisas para mostrar para o outro sua (suposta) potência, intenciona evidenciar que faz o que tiver vontade, que se manda, mesmo que lá no fundo ele não queira realmente fazer o que está fazendo, mas atua em função de quem e para quem o enxerga, um tanto exibicionista. É o caso daquelas pessoas que são “do contra” ou daquelas que fazem qualquer coisa pra se enturmar, mesmo que as peripécias que tenha que cumprir vá contra seus valores pessoais. Desempenham um papel muitas vezes prejudicial a si mesmo para se afirmar perante o outro, pensando que a liberdade é ilimitada.
Enquanto a liberdade proporciona ao sujeito a autenticidade, a libertinagem leva a reprodução inautêntica de comportamentos alheios e incongruências. Isto posto, fica a pergunta: Será que viver em função de se reafirmar como sujeito dotado de poder é ser livre ou, será que é ter pouco domínio e clareza sobre quem se realmente é?
Katree Zuanazzi

Artigo publicado no Jornal de Notícias impresso “A Folha de Saltinho” no dia 03-09-2011. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário