terça-feira, 27 de novembro de 2012

CRIANDO GENTE: O PODER DA AÇÃO DOS PAIS


Num estudo da evolução da personalidade é impossível ignorar as ocorrências dos primeiros dias e horas da vida de uma pessoa, bem como a responsabilidade que o cuidador exerce sobre este primeiro momento. Certamente a mãe é a pessoa mais qualificada para desempenhar um papel protetivo em relação ao filho no decorrer desta fase de vulnerabilidade e dependência, que é a primeira infância, e propiciar um ambiente adequado para que se desenvolvam as potencialidades deste.
Os pais, ou quem desempenha esta função, têm uma inestimável contribuição na formação da identidade da criança. Esta se constitui sobre dois aspectos: o temperamento, sendo a instância herdada geneticamente, é a forma de manifestação dos afetos e; o caráter, que engloba as características que são aprendidas na infância, vem significar noções de certo e errado, bem e mal, ou seja, é a construção da ética e da moral, é algo subjetivo, mas que foi ensinado por alguém.  
São muitos os fatores que influenciam o desenvolvimento humano (hereditariedade, crescimento orgânico, maturação neurofisiológica), no entanto tem um fator que representa maior repercussão na estruturação da personalidade, é o meio em que se está inserido. Em se tratando do mundo psicológico sabe-se que há uma tendência inata ao crescimento que impulsiona o desenvolvimento físico e mental. Entretanto este desenvolvimento não ocorrerá de forma adequada e plena se não existirem condições suficientemente apropriadas para tanto.
A criança nasce com nenhum registro e vai se constituindo como pessoa através do outro. Não especificamente o outro de carne e osso, mas o outro de representação. O imaginário é estruturado através do que os pais dizem dela. O que foi esperado deste filho desde a gestação, as expectativas, o que é verbalizado a ele, são fatores extremamente importantes porque a criança constrói em cima disto o ideal do eu, aquilo que ela vai buscar ser no mundo quando crescer.
Os pais são o primeiro modelo que se contata e a pessoa toma este como premissa na sua constituição. Um dos grandes fracassos na criação de um filho é esperar que ele tenha características boas sem fazer nada para isto acontecer, ou pior, fazendo exatamente o oposto. Se uma criança cresce em um ambiente onde é depreciada, não tendo espaço para se expressar, ouvindo adjetivos ruins sobre quem ela é (ex. você é feio, não sei a quem puxou, é desobediente), é improvável que ela se torne sadia. É impossível ser uma pessoa centrada sendo criada entre desvarios.
Os pais pensam que filho é algo pronto, que nasceu já terminado, mas não é, é uma construção cotidiana. Por ser uma construção é de inteira responsabilidade dos pais a “criatura” que os filhos se tornaram. Cuidado com o que é dito a uma criança, a chance de ela tomar como verdade isto é exorbitante.
Katree Zuanazzi

Artigo publicado no Jornal de Notícias impresso “A Folha de Saltinho” no dia 06-08-2011. 

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